O rosto na imagem, a imagem sem rosto: pobreza e precariedade no âmbito de fotografias jornalísticas sobre o programa Bolsa-Família

Resumo

O objetivo deste texto é refletir acerca da noção de rosto enquanto evidência da vulnerabilidade e vocalização de uma agonia e de uma demanda ética feita pelo outro, implicando-nos em uma relação de responsabilidade. Tal concepção, derivada do pensamento de Emmanuel Lévinas e retomado por Judith Butler, é aqui utilizada como fio condutor da análise de imagens fotojornalísticas referentes ao programa Bolsa-Família. O corpus da pesquisa conta com um total de 120 imagens, coletadas entre os anos de 2003 e 2015, oriundas de jornais de grande circulação nacional, como Folha de São Paulo, Estado de São Paulo e O Globo. De modo a investigar a dimensão política e ética dessas imagens, elas foram agrupadas em dois eixos principais de significação: a) imagens sem rosto: nelas o rosto não consegue fazer sua aparição ainda que a face humana esteja retratada; b) o rosto na imagem/o rosto da imagem: nelas o rosto se apresenta como um apelo, um chamado que nos é endereçado e nos alerta para a precariedade e vulnerabilidade da vida do outro e da nossa própria vida. Concluímos que, nesses dois conjuntos de imagens, o rosto fala e demanda escuta, ele é uma vocalização do sofrimento, de um lamento e de uma demanda que aproxima a estética da política a partir do modo como as fotografias intervêm na construção de enquadramentos para as relações éticas com a alteridade.
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Biografia do Autor

Angela Cristina Salgueiro Salgueiro Marques

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Universidade Federal de Minas Gerais
Doutora em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, Brasil). Professora do programa de pós-graduação em Comunicação Social da UFMG.
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