“Vovó não quer casca de coco no terreiro para não lembrar do tempo do cativeiro”. Memória e mediação nos terreiros de umbanda

Resumo

As reflexões apresentadas neste artigo propõem uma leitura etnográfica do culto afrobrasileiro da umbanda, a partir de sua vertente política. Durante a cerimônia religiosa, alguns adeptos incorporam entidades espirituais que remetem a figuras sociais típicas da história brasileira, por exemplo, caboclos e pretos velhos, que remetem ao extermínio de indígenas e à escravização de africanos. O objetivo do texto é mostrar como, através do momento ritual da incorporação, o culto da umbanda funciona enquanto estratégia de memória, encenando aspectos do passado colonial e escravocrata do Brasil. Aliás, o retorno destes espíritos nos corpos dos médiuns vincula esses corpos à matriz africana, independientemente da cor da pele, criando assim narrativas novas que permitem superar uma concepção estigmatizante e racista da pessoa. Então, o campo da religiosidade pode ser interpretado como uma arena de negociação identitária, na qual as entidades espirituais aparecem no papel de mediadores.
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Biografia do Autor

Claudia Antonangeli

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Università Ca’ Foscari
Mestre em Antropologia cultural, Etnologia e Etnolinguística pela Universidade Ca’ Foscari (Itália).
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