Ser sentido: a musealização como decolonialidade para a região amazônica

Resumen

O artigo tem como objetivo discutir a potencialidade das musealizações na Amazônia brasileira, região que, como abordo aqui, é vista como um espaço subjugado, tanto em termos nacionais quanto internacionais. Dessa forma, busco debater como as questões museológicas na região podem contribuir para a superação dessa subalternidade, entendida como a percepção hierárquica da modernidade. Para isso, utilizo o trabalho da filósofa Judith Butler sobre enquadramentos ontológicos e o estudo do filósofo Enrique Dussel sobre a Ética da Libertação, um movimento que busca combater a lógica hierarquizante da modernidade. A partir da análise da criação de acervos particulares pelas famílias envolvidas no evento conhecido como a Chacina de Belém, ocorrida em 2014 na cidade de Belém (Pará, Brasil), e da criação do acervo do Museu Memorial da Vila da Barca, uma comunidade periférica da mesma cidade, demonstro como a musealização se deu a partir de contradiscursos que visam produzir enlutamentos, pois a perspectiva histórica da colonização, estruturante da ideia moderna, faz com que a hierarquia se perpetue até os dias atuais, não apenas pela produção de desigualdade, mas também pela geração de violências. Os grupos analisados nos casos estudados são vítimas de perspectivas preconceituosas que os enquadram como inferiores. Assim, as musealizações na Amazônia se configuram como exemplos de decolonialidade, ao buscar o enlutamento e a inserção desses grupos excluídos, invisibilizados e inferiorizados na consciência social.