As mulheres corajosas da aldeia Taunay/Ipegue em Mato Grosso do Sul/Brasil: xamanismo, cristianismo e atualização cosmológica

  • Noêmia dos Santos Pereira Moura
    Universidade Federal da Grande Dourados noemiamoura[at]ufgd.edu.br
  • Rosalvo Ivarra Ortiz
    Universidade Federal da Grande Dourados
  • Ane Caroline Dos Santos
    Universidade Federal da Grande Dourados

Resumo

Os Terenas cristãos falam nos xamãs como se estivessem resgatando as lembranças de suas infâncias ou relatos de seus anciãos o que nos levam a refletir que o tempo do desaparecimento dos koixomuneti não é tão remoto quanto pretendem apresentar. Os líderes evangélicos e católicos com os quais dialogamos no período de 2003 a 2009 e recentemente em 2016 faziam essas inquietações constantemente. Dessa forma, suas narrativas e estórias, levaram-nos a evidenciar um perfil de pajé, tal como se autodenominou à época a nossa principal interlocutora Dona Miguelina Silva, Terena da Aldeia Ipegue da Reserva Taunay/Ipegue, localizado no município de Aquidauana no Estado de Mato Grosso do Sul- Brasil. A pajé também era uma das coordenadoras/líderes do Grupo das Mulheres Corajosas da Igreja Católica, que atentas aos movimentos da aldeia se uniam para informar ao Conselho Tribal, sobre situações de risco na comunidade. As mulheres levavam ao Cacique, liderança temporal da aldeia terena, demandas e situações consideradas por elas como fora do padrão Terena. Uma característica que notificamos foi que as mulheres do grupo, em sua maioria, eram benzedeiras e filiadas à Capela Católica da aldeia Ipegue. As Mulheres Corajosas, portanto, era um grupo de referência católica e de benzedeiras, que ocupavam a função de denunciar comportamentos que consideravam inadequados ou fora do ethos Terena. Percebemos as atualizações da figura do xamã, que em contato direto com os Terena e destacamos os novos xamãs católicos ressignificados em benzedores, pajés, purungueiros e fazedores de simpatias (MOURA, 2009). Portanto, algumas benzedeiras do grupo de Miguelina, segundo ela, especializavam-se em doenças específicas de uma faixa etária. Assim, Dona Miguelina benzia as crianças, mas também os adultos. O destaque para essa situação em que a interlocutora é pajé, benzedeira e associada a um grupo de mulheres, que se autodenominam Corajosas, para enfrentar situações liminares em sua comunidade e, tem o objetivo de evidenciar os lugares sociais e políticos que elas ocupam em uma aldeia Terena para lidar com as diversas instâncias internas e externas.
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Biografia do Autor

Noêmia dos Santos Pereira Moura

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Universidade Federal da Grande Dourados
Professora do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal da Grande Dourados
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